Violas no saco - Vicente Serejo

Ninguém, a não ser por clara e escancarada tradição fisiologista, pode compreender que mesmo agora os pemedebistas do Rio Grande do Norte insistam nesse modelo ardiloso que ainda imaginam impor como disfarce. Vendem dificuldades com declarações que ocupam as manchetes, ensaiam uma crise de afirmação e recuam com o biscoito que lhe haviam negado. Como se não fosse mais natural o partido usar a sua força ajudando o governo para o qual foi às ruas pedir o voto dos seus eleitores.

A dependência do governo tem levado historicamente os pemedebistas a um estranho exercício de peripécias, como se a Paz Pública tivesse deixado impresso em baixo relevo no peito de cada um a marca do governismo por adesão e não por conquista. O próprio Aluizio Alves, aquele que em sessenta fizera a revolução pelo voto, passou de bom feiticeiro a vítima do feitiço ao criar a Arena Verde como se fosse a contraposição da Arena Vermelha de Dinarte Mariz, mas acabou cassado pelos militares.

Desde o primeiro sol do verão parlamentares do PMDB ensaiam um afastamento do governo de Rosalba Ciarlini. E não se diga que a tarefa ficou no baixo clero partidário. O senador Garibaldi Filho declarou sua opinião favorável a um caminho próprio, assim como seu próprio filho, hoje aliados naturais dos petistas, e o presidente do partido, Henrique Alves, presidente da Câmara Federal, numa declaração que parecia competente, admitiu ser candidato a governador ou senador na eleição de 2014.

Era tudo jogo para despistar o verdadeiro objetivo. Não mudaram as razões, se eram nascidas do desempenho do governo. Nem os desejos pemedebistas de mais espaço no campo governamental. O governo sabia e os pemedebistas sabiam que o governo sabia. E numa reunião as promessas foram renovadas, agora sob a égide dos milhões que vão jorrar da cornucópia dos poderosos empréstimos ao Banco Mundial e Banco do Brasil, apascentando os liderados que imaginavam ter alguma influência.

Da receita a legitimar o jogo virá a nota do senador democrata José Agripino reunindo alguns postulados, num termo de conduta engendrado para servir ao fisiologismo que une e reúne o interesse de todos. O PMDB poderia ter exercido a dignidade de não ameaçar romper para ter novas benesses, afinal lutou pela eleição de Rosalba Ciarlini através do senador Garibaldi Filho e seu um milhão de votos. Não. Preferiu a barganha para conter o espasmo pela falta de mais cargos no governo estadual.

Não se pode afirmar que foi a batalha de Pirro, pois além de nada perder o PMDB só tem a ganhar a partir de agora. Resta saber até quando vale o lacre do acordo de cúpula, mesmo sabendo que os nossos pemedebistas são criativos inventando desculpas para romper ou ficar. Aos que declararam em nome do rompimento, mesmo alguns com a brandura de uma candidatura própria, resta guardar as suas violas no saco. E de lá só precisarão retirar quando o mastro ordenar. Agora a ordem é silenciar.

Fonte:  www.jornaldehoje.com.br

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